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Prefácio​ do livro " Fazendo as pazes com o meio ambiente" de T. Y. S. Lama Gangchen Tulku Rinpoche

 

Em certo sentido, podemos dizer que este livro foi começado e terminado em Assis, a terra santa de São Francisco; mas, por outro lado, também teria sentido dizer que levou setecentos anos para ser completado.

​Moro na Itália desde 1983, e a primeira cidade onde morei neste país foi Gubbio, perto de Assis. Em outubro de 1986, participei do Dia da Paz Mundial em Assis, onde Sua Santidade o Papa João Paulo II, Sua Santidade Tenzin Guiatso o Décimo-Quarto Dalai Lama e muitos outros importantes líderes religiosos se reuniram. Nesse encontro, os líderes religiosos presentes prometeram responsabilizar-se pelo meio ambiente. Por isso, de certa forma, a idéia deste livro nasceu nesse momento.

Desde então, tenho viajado continuamente pelo mundo aprendendo, ensinando e praticando a cura, o que me deu a oportunidade de ver com meus próprios olhos as transformações no clima do planeta e os resultados da poluição por toda parte. É muito difícil para as pessoas que não saem de casa e apenas ouvem sobre os problemas ambientais na televisão e no rádio, relacionar o colapso do sistema imunológico do planeta às suas próprias vidas. Apesar de a maioria das pessoas admitir que estão se sentindo cada vez mais e mais cansadas e exauridas devido à poluição interna e externa, todos acham que para combater isso basta comprar produtos biodegradáveis, comida, papel e roupas não prejudiciais ao meio ambiente. Usar filtro solar e reciclar o lixo é o máximo que se quer fazer. Estamos todos fechando os olhos para as condições do meio ambiente, e continuamos a pensar que a poluição não é tanta e que não estamos tão cansados ou doentes assim.

Viajando pelo mundo, desenvolvemos uma perspectiva diferente dessa. Por exemplo, podemos sentir e ter a experiência pessoal do nível de poluição atmosférica em cada grande cidade ou país que se visita. Começamos a sentir a camada de poluição que envolve o planeta. Percebemos que o clima do mundo certamente está mudando, tornando-se cada vez mais quente. Em todos os lugares que visito, as pessoas comentam que o clima está diferente, mais quente do que quando eram crianças. Eu mesmo percebo que o Tibet é muito mais quente hoje do que era durante a minha infância. Depois de ver pessoalmente os efeitos do envenenamento radioativo na Rússia, vivenciar um terremoto, passar muito perto de um perigoso vulcão instável e ver pessoas afogadas em enchentes na região do Himalaia, causadas por chuvas da época das monções e pelo deflorestamento, a má relação que temos com nosso planeta torna-se muito mais clara e real.

Durante os muitos anos em que tenho viajado pelo mundo praticando a cura, sempre me perguntei o que eu poderia fazer para curar profundamente os problemas que muitas pessoas têm em comum. No inverno de 1992, durante minha quarta visita à estupa-mandala de Borobudur na Indonésia, tive uma espécie de revelação acompanhada de muitas visões de Budas, Seres Sagrados e de meus Gurus. Depois disso, algo se abriu em minha mente e eu comecei a relembrar a linhagem de sabedoria de uma de minhas encarnações passadas no Tibet: Djampa Pel ou Truphul Lotsawa. “Djampa Pel” significa “Glorioso Maitreya”, e “Truphul Lotsawa”, o Lotsawa de Truphul. “Truphul” é o nome de uma aldeia na parte Oeste do Tibet, e “Lotsawa” é uma palavra sânscrita que significa “olho do universo samsárico”. Traduzindo textos budistas do sânscrito para a língua tibetana, Djampa Pel pôde abrir os olhos de sabedoria de muitas gerações de tibetanos, que, de outra forma, teriam ficado vagando pelo samsara, cegos pela ignorância. Tendo vivido no início do século XII, ele foi também um dos responsáveis pela introdução da tradição tântrica hindu no Tibet, um pouco antes de seu declínio e desaparecimento na Índia. Traduziu mais de duzentos livros do sânscrito, tendo também escrito cinqüenta livros de sua autoria. Muitos desses textos eram sobre métodos tântricos que podiam ser usados para curar e transformar o meio ambiente externo e interno, equilibrar os elementos etc. Fiel a seu nome monástico de ordenação, ele devotou sua vida a Maitreya, o futuro Buda do amor, tendo construído três enormes estátuas suas. Eu também sempre senti uma conexão muito forte com Maitreya, e consegui patrocinadores para a construção de nove estátuas suas, cada uma com mais de três metros de altura.

Essas antigas lembranças do século XII recebem o nome de “termas” da mente, ou “tesouros” da mente. São verdadeiros métodos de cura manifestando-se de meu inconsciente sob formas modernas e novas, mais adequadas para curar as pessoas e a poluição desta época atual. Um “terton”, ou “descobridor de tesouros”, é uma pessoa capaz de encontrar textos preciosos que tenham sido escondidos em épocas passadas na água, terra, fogo, vento ou espaço da mente sutil para serem revelados no futuro. Truphul Lotsawa disse: “Compus estes textos para serem utilizados pelos povos do futuro; por isso, decidi escondê-los no céu.” Outra de minhas encarnações passadas foi o terton Latsun Namkha Nyimpo, um tibetano que viveu no século XVII. Ele foi um famoso nyingmapa(1) “descobridor de tesouros”, tendo revelado inúmeros textos, muitos dos quais são ainda hoje utilizados pelos praticantes nyimgmapas. Tenho profundo respeito pelos ensinamentos e detentores de linhagem pertencentes às quatro escolas do Budismo Tibetano, pois, em vidas anteriores, fui praticante e lama das quatro escolas principais: Nyingma, Karguiu, Sakya e Guelupa.

Durante uma viagem à Índia em abril de 1995, visitei a estupa de Bodhgaya, situada no lugar onde Buda Shakyamuni atingiu a Iluminação. Eu já recebera então a “terma mental” das cinco Mães Elementais, e este texto já estava escrito, mas eu ainda não decidira se devia revelá-lo publicamente. Depois que terminamos de fazer um puja(2) pela paz mundial nessa estupa, ao qual haviam comparecido muitos lamas e amigos meus, comecei a falar um pouco sobre o porquê de as divindades femininas terem poderes mais adequados que as divindades masculinas para a cura do meio ambiente. Enquanto eu falava, os alto-falantes começaram a transmitir muitos sons de sinos e preces de refúgio em sânscrito. Por acaso, exatamente nesse momento, havíamos recebido permissão para entrar no gompa(3) secreto, no primeiro andar da estupa, onde os zeladores nos permitiram fazer a purificação dos cinco elementos e recitar mantras da interdependência. Nos tempos antigos, esse gompa era a sala onde ficava a preciosíssima estátua de Buda Shakyamuni com oito anos de idade, esculpida enquanto ele ainda era vivo. No século VIII D. C., essa estátua foi levada para o Tibet como dote da esposa hindu do rei tibetano Trisong Detsen. Ela foi colocada no templo Jokhang, em Lhasa, onde está até hoje, e é conhecida como “Lhasa Jowo”, ou “O Venerável de Lhasa”. Muitos milagres foram atribuídos a essa estátua, desde essa época até os dias de hoje. Senti, então, que esses acontecimentos eram sinais auspiciosos, uma indicação de que este livro seria muito útil e benéfico para muitos seres, já que traz tantos sinais das bênçãos dos Seres Sagrados. Depois disso, recebi muitos outros sinais em sonhos e através de oráculos. Este livro é uma combinação do que aprendi, estudei e vivi nesta minha vida, e também do que aprendi e vivi em vidas passadas. Rezo fervorosamente para que ele traga benefícios a muitas pessoas por todo o mundo, ajudando-as a melhorar sua saúde, a saúde de outros e do planeta.

O texto que vem a seguir foi escrito por um colega e amigo, o professor Trivedi, um reconhecido especialista no campo da ecologia. É muito importante sabermos com exatidão o que está acontecendo em nosso mundo. Neste texto, o professor apresenta algumas informações científicas importantes sobre a situação ambiental nos dias de hoje.

​Para esclarecer nossa compreensão da relação entre o meio ambiente externo e interno, também incluí nesta edição uma bela palestra de Sua Santidade Sakya Trizin, na qual ele introduz a idéia da interconexão de todos os fenômenos.

 

"PAZ INTERNA E PAZ NO MUNDO AGORA E SEMPRE, COM A BÊNÇÃO DE TODOS OS SERES SAGRADOS E A ATENÇÃO DE TODOS OS SERES HUMANOS"

 

T. Y. S. Lama Gangchen Tulku Rinpoche

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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